8.1.07

Está a dar os primeiros passos o meu novo blog. Para alguns leitores, isto é uma despedida. Aos outros, peço que me concedam algum tempo antes de o divulgarem por aí. A todos agradeço as palavras amáveis que me dirigiram.

1.1.07

Resolução de ano novo: mudar.

Não devemos apegar-nos às coisas que construimos. Este Franco Atirador foi uma experiência preciosa, e um sucesso, mas revelou-se desde o início excessivamente reactivo para o meu gosto. Quero escrever textos mais longos, mais lentos, mais tranquilos. Em breve colocarei aqui a morada do meu novo blog. O Franco Atirador morreu. A todos os leitores, muitíssimo obrigado.

Parabéns, "Da Literatura".

Creio que muita gente concordará comigo: o Da Literatura é o melhor blog português. Raros são os dias em que não o leio com um sentimento de antecipação — e isso não é dizer pouco. Espero que o seu terceiro ano de actividade seja tão interessante como os dois que agora se celebram. Aos autores, e ao Eduardo Pitta em particular, feliz aniversário.

Santa paciência.

Ontem à noite, enquanto o país inteiro abria garrafas de champagne e este vosso servidor fumava um Montecristo nº 2 num deslumbrante terraço de Lisboa, o André Azedo Alves abespinhava-se na cave, regurgitando infâmias contra mim e contra o Filipe Moura.

Homem, você não tem amigos? (Como se eu não soubesse a resposta). Vá jantar fora, André; descontraia. Tanto ódio não pode ser saudável — nem mesmo para um membro da Opus Dei.

30.12.06

Nem todos Azevedos.

Que injustiça, Luís. Percebo que esteja irritado com algumas coisas, mas está a cometer um erro clássico: ver toda a direita (ou isso a que chama a direita) como um bloco sem divisões. Se reparar bem, há muita gente à direita que não encaixa de modo algum no seu perfil. Pense no Mexia, no Lomba, na malta da Atlântico e do 31 da Armada, no Francisco Mendes da Silva, no Paulo Tunhas, no Henrique Raposo, no Tiago Mendes, nos meus amigos Fernando Cruz Gabriel e Manuel Pinheiro, etc., etc, etc. Mesmo no Insurgente e no Blasfémias, que são para si a direita (parece-me), há obviamente mais cores do que quer ver. Poucas pessoas, se alguma, encaixam completamente no perfil que traçou. E talvez ainda venha a ter saudades delas como agora tem do Independente.

Pedro Picoito nos comentários a este post. Não gosto de ser injusto, e ele tem razão.

Serviço público III.


É verdade: nada como o original.

Serviço público II.


E agora em francês.

Serviço público I.


Os meus amigos desculpem, mas não pode haver quadra de Natal sem isto.

29.12.06

Saudades.

Hoje à tarde falava com um amigo a respeito do defunto Independente. Concluímos ambos, para nosso grande espanto, que tinhamos saudades. Saudades de uma direita europeia, inteligente, contemporânea, provocadora, sem teias de aranha nem macaquinhos no sótão, capaz de gozar com o João Carlos Espada e de dizer sem papas na língua que no Expresso se escrevia mal. Que aconteceu a essa gente? Hoje em dia a direita é o João Carlos Espada, e à nossa volta pupulam anõezinhos sem nome, nem ponta de interesse nem talento, de credo na boca e crucifixo ao peito, incapazes de modular uma frase que não soe a cacofonia salazarenga. À medida que o país se empobrece, estas criaturas vão saindo das tocas para tomar conta dos jornais, das rádios, das televisões, do CDS e do PSD. Subvertem palavras como liberalismo, incensam o Cavaco Silva e cultivam um arzinho respeitável que faria rir até às lágrimas a velha direita do Frágil e dos Três Pastorinhos. Não sei como se suportam a si próprios, mas sei que os outros, os antigos jornalistas do Independente não a devem suportar. Triste, desiludido, cabisbaixo, disse adeus ao meu amigo e fui logo comprar um livro do Miguel Esteves Cardoso. Chama-se A Minha Andorinha — e tal como ela, apetece-me emigrar.

Novo link.

Descobri hoje o womenage a trois. Vai já para a barra lateral.

Se calhar é porque a mão invisível trata delas.

Uma interrogação metafísica: porque será que a extrema-direita caceteira da nossa blogosfera, sempre tão preocupada com fetos de dez semanas, nunca perde muito tempo a defender a vida de crianças com dois anos e meio?

E você, já foi libertino hoje? (1)




Les Liaisons Dangereuses, um livro sempre recomendado pelo Franco Atirador.

28.12.06

A saga continua.

Num tom bastante mais sério, respondi pouco depois a uma defensora do "Não" que me enviou uma mensagem indignada de protesto. Revelo apenas o corpo dessa resposta por respeito à privacidade da autora.

Cara __ ,

Não duvido que hajas pessoas excelentes em todo o lado. Mas existem ideologias totalitárias (como o comunismo) e manifestações totalitárias de religiosidade (como, na minha opinião, o Opus Dei), que devem ser travadas.

Ambas incentivam o ódio e a animosidade contra quem lhes tenta impôr limites. A prova disso é o que espero fazer daqui a alguns dias, publicando trechos das horríveis agressões de que fui alvo desde que esta discussão se iniciou.

Tenho católicos na minha família, alguns bastante próximos. Nenhum, no entanto, se aproxima da rudeza e da sanha persecutória destas pessoas que conheci na blogosfera. É uma constatação lamentável que, repito, não me desencoraja nem intimida.

Na minha opinião, os católicos portugueses terão de aprender a tolerar a "anarquia" e a "libertinagem" (para usar as palavras reveladoras do jornalista João Távora) próprias de uma sociedade agnóstica, quer isso lhes agrade, quer não.

Não proponho a ninguém que abandone ou sacrifique a sua fé. Apenas que me deixe viver sem fé, tranquilamente, e em completa liberdade.

Um feliz ano novo para si também.


A promessa feita neste texto é para cumprir: se tiver tempo, farei um apanhado dos mimos que me foram dirigidos por gente muito conhecida nos últimos dias.

Olha, fui desmascarado.

(...) Luís M. Jorge, autor que verte regularmente na blogosfera as secreções próprias de uma neurótica e aguda bipolaridade (...)
Assim mesmo, com a arte de uma heroína do Camilo, o João Távora denuncia a baixeza dos meus argumentos e as histéricas e negras pulsões afirmadas neste anárquico e por vezes libertino campo da blogosfera. Caramba. Quando a minha pobre cabeça torturada alcançar o significado destas afirmações, eu vou-me a ele. Ai vou, vou!

O meu disco do ano (obrigado, D.).

Ys, de Joanna Newsom.

O meu filme do ano (que afinal são dois).


27.12.06

Aquecimento global.

É lamentável que 2.500 cientistas façam um estudo sobre alterações climáticas e se esqueçam de ouvir o João Miranda.

Amor é...

Nos comentários ao post anterior descubro, com certa melancolia, que um leitor se apaixonou por mim. Sem desdenhar o nobre sentimento do amigo Pedro Nunes, que me envia um abraço e um beijo (hã, pronto, vamos lá, um beijinho para si também), gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um apelo às jovens frequentadoras do meu blog: não se deixem ficar atrás. Sigam este corajoso exemplo e enviem-me agora as provas do vosso ardente entusiasmo para o mail_ofrancoatirador@yahoo.co.uk. Prometo discrição e respeito no tratamento de todas as fotografias de corpo inteiro.

Quanto a nós, Pedro: terei muito prazer em colocar um link para o seu Diário Remendado na minha barra lateral, se você em troca me garantir que as palavras link, muito prazer e minha barra não lhe despertam a, como direi, concupiscência.

26.12.06

Muito obrigado.

Quero manifestar a minha gratidão às pessoas que por link, comentário ou email me enviaram os seus votos de boas festas. Entretido em polémicas só hoje dei por algumas dessas mensagens, que nem por isso são menos valiosas para mim.
Num comentário ao post anterior, um leitor convida-me a exigir a demissão de Ramos Horta. Meu caro amigo, eu não tenho tempo para tudo. Não vê que estou ocupado com a Contra-Reforma?

Perfume.

Enquanto vos escrevo, pela madrugada dentro, tenho o escritório aspergido com uma mistura de essências de lavanda e flor de laranjeira — dois aromas repousantes que, segundo a minha perfumista, me preparam para uma noite sem sobressaltos. A minha perfumista? Sim, leitor.

Sugeri-lhe desta vez, timidamente, que substituísse por bergamota a flor da laranjeira (tenho uma predilecção proustiana por bergamota, vinda das tardes infinitas de um Outono lancinante em que li o Contre Sainte-Beuve nos jardins do Museu do Traje). A proposta foi recebida com um cortês mas definitivo no no: tal sacrilégio transformaria o suave ambientador numa matéria imprevisível e excitante — o que, dados os meus provectos trinta e oito anos, definitivamente não se recomenda.

Ainda hoje testo aromas de marca nos aeroportos — o novo Terre d'Hermès pareceu-me excelente — mas prefiro há muito as criações da perfumaria tradicional. O vício começou em Itália. Quando a Acqua di Parma não pertencia ao grupo LVMH, e as sumptuosas colónias de Santa Maria Novella evocavam ainda o seco encanto florentino do Bargello, eu usava-as como um statement, um protesto subtil contra os cansativos cheiros unisexo da Armani e da Calvin Klein. Até que um dia, no outro lado do mundo, passeando em Ginza descobri os meus perfumes entre as inevitáveis lojas da Fendi e da Louis Vuitton. Nesse momento compreendi que a batalha contra a globalização estava perdida — abandonemos o assunto aos inteligentes meninos altermundialistas, de passamontanhas e cocktails Molovot.

Na pequena perfumaria da Rua da Madalena compro apenas sabonetes e ambientadores. Este Natal encomendei cerca de vinte para oferecer. A dona Fernanda prepara-os à minha frente, misturando as essências com um rigor germânico. O que prefiro chama-se, muito apropriadamente, Alceste — uma conjunção feliz de pimenta, musk e vetiver, ideal para a cozinha após as refeições. Desta vez arredondei o troco com um pequeno frasco cheio de tuberosa, que não me convenceu. Uma hora depois, enquanto escolhia o papel de embrulho numa papelaria da Baixa e bebia uma chávena de Jamaica Blue Mountain no Nicola Gourmet (é o café da semana na altura do Natal), os meus pensamentos dirigiam-se piedodosamente à turba insana que se acotovelava no Colombo e se desfazia em postas no El Corte Inglês ¡Pobrecitos!

Todos os anos, por esta altura, chego à mesma conclusão: há duas Lisboas, leitor. E a minha é, definitivamente, a melhor.